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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A fêmea na história humana

Resenha comentada do capítulo I do livro
“O Segundo Sexo” (vol. 1)
Autor (a): Simone de Beauvoir


No primeiro capítulo do livro “O Segundo Sexo”, da escritora Simone de Beauvoir, ela apresenta uma dialética sobre a condição desprivilegiada da mulher perante o homem.
Descreve-se a perseguição e humilhação sofridas pelos negros nos Estados Unidos e pelos judeus nos guetos alemães, romanos e da República Checa.
Beauvoir argumenta que a despeito da falta de reconhecimento dos direitos dos negros e judeus, enquanto humanos e cidadãos, o poder de reação pode ser exercido por ambos os grupos contra os seus inimigos. Todavia, em se tratando do segundo sexo, que é o feminino, no ponto de vista da escritora, não há nada que possa ser feito para sobrepujar a superioridade masculina.
Acredita-se na relevância conceitual, ética e social da questão levantada pela escritora quando ela pergunta na pág. 7 do livro: “Em verdade, haverá mulher?”
A pergunta nasce do pressuposto de que houve a perda da feminilidade por parte da mulher, pois, esta, objetivando adquirir os mesmos direitos do primeiro sexo, mediante seu enquadramento entre os homens em todos os aspectos como o político, econômico, social, entre outros. Em sua luta recente e constante pela igualdade na distribuição de direitos entre homens e mulheres, de certa forma, tem se descaracterizado como mulher, pelo menos de acordo com a imagem construída pelas sociedades para o sexo feminino. Muito embora tenha útero e vagina, a fêmea quer a posse de todos os direitos do sexo masculino como se ela não fosse mais a mulher, ou seja, a composição humana delicada, indefesa e protegida pelo macho.
Assim sendo, a mulher demonstra um sentimento de inferioridade por causa da sua condição de fêmea. Entretanto, ainda que ela possua o desejo de ser tratada como ser humano sem a especificação: segundo sexo, não dispensa as delicadezas masculinas.
As mulheres pretendem, na verdade, se despojar de uma herança genética e de um estigma social que as classificam como “dependentes eternas” do homem.
O incômodo, é importante observar, não reside tanto na herança genética, mas, no que ela reporta para a própria mulher e para toda a sociedade, uma posição de subserviência diante do macho.
Beauvoir explica sua visão sobre o homem e a mulher, contra-argumentando um pensamento construído pela sociedade que estereotipiza a determinação de uma mulher, quando ela assim se revela- defendendo uma causa, tendo opinião divergente- como subjetividade, pelo fato de a atitude ser oriunda de uma fêmea, e, não observa a autenticidade do julgamento da questão, independentemente do tipo fisiológico de quem o faz.
Um trecho do discurso da escritora diz: “A mulher tem ovários, um útero; eis as condições singulares que a encerram na sua subjetividade... O homem esquece soberbamente [de seus] hormônios e testículos”.
A fala de Beauvoir é uma contestação contra o modelo social estabelecido para o sexo feminino, que é classificado como sinônimo de negação, dependência, limitação. Enquanto que, para o masculino a classificação é totalmente diferente, pois, ele é denominado de neutro, positivo. Ela mostra um panorama da mulher em uma situação desprestigiosa e vislumbra um perfil único de todos os indivíduos participantes da história humana, com a aquisição de amplas e semelhantes prerrogativas.
Para fortalecer sua contestação do preconceito social com relação à mulher ela cita uma frase do filósofo Aristóteles que diz: “A fêmea é fêmea em virtude de certa carência de qualidade”, e de Stº Tomás que afirma ser a mulher, um homem incompleto.
A mulher, de fato, é um ser sem história e sem religião própria, como afirma Beauvoir. Desta forma, a fêmea figura como colaboradora na construção da história do macho. Ele, por outro lado, figura como o dominador, superior, enfim, o Um, ao qual o Outro que é a mulher, precisa estar sempre sujeito, até mesmo para ser denominado como o Outro.
Aconteceram grandes evoluções sociais nas últimas cinco décadas. As mulheres alcançaram um espaço abrangente na sociedade, porém, mesmo com todas as transformações realizadas, elas não podem se desprender da existência e utilidade deles. Basicamente neste ponto começa e prossegue toda a problemática feminina, pois, como assevera Beauvoir: “No momento em que as mulheres começam a tomar parte na elaboração do mundo, esse mundo é ainda um mundo que pertence aos homens”.
Constata-se que é irrefutável a positividade do avanço da mulher a partir das últimas décadas do século passado, que deixou de ser uma dona de casa absolutamente submissa e irresponsável para ser uma competente profissional em diferentes ramos de atividade externa.
Elas passaram a ser funcionárias de empresas de pequeno, médio e grande porte exercendo diversas funções como a de gerente, diretora e superintendente. Aumentaram em número entre as profissionais liberais executando a profissão de advogada, contadora, corretora, médica, também se proliferaram no meio artístico como cantoras, atrizes, produtoras, se multiplicaram várias vezes como modelo, e, nos meios de comunicação, tem se destacado apresentando programas educativos, informativos e de entretenimento. Nos telejornais, atuam como apresentadoras de programas de notícia e repórteres exibindo reportagens sobre diferentes assuntos e, trabalham também como meteorologistas.
As conquistas alcançadas pelas mulheres são expressivas e de suma importância, tanto para a própria mulher como para os demais membros da sociedade, partindo-se do princípio que, o crescimento intelectual, pessoal, profissional e humano é indispensável a todos os seres independentemente do gênero- masculino ou feminino-, todavia, se existe a possibilidade delas chegarem à total igualdade com os homens ou até mesmo superá-los é uma interrogação, que talvez, só o futuro responderá.

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